A Península Ibérica sobressai na Europa como um hotspot de sistemas agroflorestais e Portugal tem uma variedade muito grande de sistemas tradicionais. Além do mais conhecido montado de sobro e azinho (sobreiro e azinheira), típico do Alentejo, temos:
- Os soutos, na região de Trás-os-Montes, que conjugam a produção de castanha e pastorícia;
- Os pomares silvopastoris, que existem por todas as regiões, embora com diferentes espécies de árvores de fruto (por exemplo, no Algarve é comum a alfarrobeira conjugada com pastorícia);
- Os lameiros, principalmente em zonas de montanha, com árvores de bordadura que funcionam como limites para proteção dos animais que pastam no interior das parcelas. No Verão, depois de podadas, as árvores podem gerar suplemento alimentar (forragem) para os animais.
- As parcelas de vinha com olival e pomar tradicional (cerejeiras, macieiras, amendoeiras, marmeleiros e muitas outras), típicas das Beiras e principalmente da Beira Alta.
- A vinha do enforcado, tradicional do Douro, em que a vinha é conduzida em altura e suportada pelas árvores (tutores vivos) que também fazem a bordadura das parcelas. No Verão, as árvores são normalmente alvo de podas acentuadas, gerando também forragem para os animas que estão no centro das parcelas.
Muitos destes sistemas enfrentam desafios que necessitam de soluções e abordagens inovadoras para poderem continuar a existir. Por exemplo o montado de sobro (cuja vertente económica está muito relacionada com o preço da cortiça e da carne) tem vindo a enfrentar uma maior mortalidade das árvores, muitas vezes associada às alterações climáticas e também ao sobrepastoreio. Neste caso, têm sido testadas várias soluções, como:
- Colocar vedações em pequenas clareiras arborizadas para proteger a bolota (que cai para o solo) da predação dos animais e favorecer a sua germinação;
- Colocar protetores em torno das jovens árvores que já estão a germinar, também para as proteger dos animais que as podem comer ou pisar;
- Fazer adensamentos, quando necessário, com plantação de sobreiros e azinheiras em zonas onde se mantêm arbustos que possam proporcionar sombra e proteção às novas árvores para promover uma maior taxa de sobrevivência;
- Proceder a irrigação nos primeiros anos de vida das árvores, também para promover maior sobrevivência;
- Instalar materiais que aumentem a atividade microbiológica, a humidade do solo e a capacidade das razies para captarem água (mulching e micorrizas).
Nos lameiros, uma das soluções aplicadas tem sido o chamado “pastoreio rotativo”, que permite conduzir o gado de forma a preservar as espécies vegetais que se querem manter e as que se querem deixar para consumo do gado. Esta técnica é complexa, mas tem sido apoiada pela utilização de coleiras GPS (o projeto Life Maronesa, por exemplo, está a usá-las), e está muitas vezes associada a aplicações digitais que permitem saber à distância o tempo que cada animal permanece em cada zona da exploração.
O pagamento por serviços de ecossistema em lameiros e na vinha do enforcado é outra medida que deve ser considerada para evitar que desapareçam estes sistemas agroflorestais tradicionais.
Em termos de inovação, a variedade de combinações pode ser aumentada, incluindo culturas que não são comuns nos sistemas agroflorestais em Portugal, como a floricultura por exemplo. A diversificação de sistemas silvoaráveis é outra hipótese, pela conciliação de culturas agrícolas com a instalação de espécies de árvores que têm elevada procura no mercado, como é o caso do eucalipto. Isto poderia libertar áreas em regiões onde o eucalipto tem menor produtividade e se encontra muitas vezes ao abandono, promovendo-o em regiões de maior produtividade, em conjunto com outras culturas.