Ao contrário das métricas anteriores, que foram já aplicadas noutros estudos científicos, o presente trabalho introduz o indicador composto Nexo Floresta-Humanos, que integra o número de pessoas a viverem perto da floresta, a área de floresta per capita e a distância média das populações à floresta mais próxima, proporcionando uma perspetiva mais completa sobre as relações entre as pessoas e as florestas.
Esta análise suplementar confirma trajetórias regionais divergentes na relação floresta-humanos ao longo destes 45 anos e a análise destes padrões sublinha a necessidade de implementar abordagens de sustentabilidade e conservação individualizadas e adaptadas aos contextos socioecológicos de cada perfil regional.
Os dados identificados permitem traçar um percurso evolutivo mais consistente do afastamento ou aproximação às florestas, região a região, entre 1975 e 2020:
– Regiões europeias: todas as regiões europeias registaram uma evolução positiva, ou seja, as populações humanas europeias ficaram mais próximas das florestas ao longo do período em análise. A alteração mais substancial registou-se no Sul da Europa (55,20%), seguindo-se Europa Ocidental (25,14%), Norte da Europa (8,21%) e Leste europeu (5,81%). A evolução poderá ser explicada por “uma combinação entre populações estáveis ou a decrescer, aumento de áreas florestais e maior integração do planeamento urbano-florestal”, refere a informação suplementar que acompanha a publicação.
– Regiões asiáticas: a maioria das regiões asiáticas apresentaram um percurso favorável. O Sul da Ásia (18,3%) foi aquela em que as pessoas se tornaram mais próximas das florestas, mas houve aproximações também na Ásia Central (12,95%), no Oeste da Ásia (9,47%) e no Este asiático (5,56%). A exceção vai para o Sudeste asiático, com uma tendência negativa acentuada (-31,2%), sugerindo “uma severa degradação da acessibilidade às florestas nesta região, associada provavelmente à desflorestação rápida, conversão em plantações agrícolas e elevadas taxas de aumento populacional”.
– Regiões africanas: a maioria das regiões africanas revela tendências negativas, com a África Central a registar o declínio mais acentuado (-33,66%) e também o mais preocupante, “dada a sua importância como sumidouro global de carbono florestal e hotspot de biodiversidade”. Também com percursos de afastamento estão a África Ocidental (-6,44%), a África Oriental (-6,39%) e a África Austral (-0,92%), refletindo, provavelmente, a conjugação de pressões diversas, nomeadamente aumento populacional, expansão da agricultura e da extração de recursos. Neste continente, a exceção vai para o Norte de África, que apresenta uma tendência positiva (2,82%).
Regiões americanas: Norte e Sul da América apresentam padrões negativos, embora a diferentes intensidades. A América do Sul evidencia um afastamento entre pessoas e florestas mais significativo (-17,55%), reflexo das pressões contínuas de desflorestação da Amazónia e de outras áreas tradicionalmente muito florestadas, associadas a alterações na distribuição populacional. Na América do Norte, a tendência é mais ténue (-1,84%), sugerindo relações floresta-humano em ligeira deterioração.
Oceânia: encontrou-se uma forte tendência positiva (25,88%), comparável à da Europa Ocidental, indicando melhorias nas relações floresta-humano, o que pode refletir práticas eficazes de gestão florestal, padrões populacionais estáveis e, possivelmente, esforços de reflorestação.
Em várias das regiões, as mudanças neste Nexo Floresta-Humanos aconteceram de forma gradual, mas há vários casos de pontos de viragem acentuados, que podem fornecer pistas importantes para compreender dinâmicas históricas e prever futuras trajetórias. Por exemplo:
– No Sul da Europa, as pessoas começaram a estar mais próximas das florestas desde 1985-90, período em que um modesto Nexo Floresta-Humanos começou a transformar a região naquela que apresentava, em 2020, a mais robusta conexão entre as pessoas e as áreas florestais.
– A África Central registou um ponto de inflexão crítico entre 1995 e 2000, quando um afastamento moderado se agudizou dramaticamente. No Norte deste mesmo continente, o ponto de viragem deu-se mais tarde e em sentido inverso: já em torno de 2010, passou-se do declínio à recuperação da proximidade entre pessoas e florestas, sugerindo recentes alterações nas políticas ou nos padrões de uso do solo.
– A trajetória mais incerta, com mais pontos de viragem (em 1985, 1990, 1995, 2005 e 2015) observou-se no Sul da Ásia e acabou por se saldar numa tendência positiva. Já a Ásia Central conseguiu inverter uma situação de afastamento e transformá-la num caso de forte aproximação à floresta por volta de 1985.