Esta primeira lista de árvores do Mediterrâneo identifica nesta região uma série de espécies que não constavam de inventários anteriores, em particular devido à área geográfica selecionada e ao conceito de árvore assumido pelos autores. Por exemplo, inclui mais 80 espécies e 67 subespécies do que as que constavam da lista de árvores da Europa mediterrânica, que este trabalho tomou como referência.
Em termos geográficos, o levantamento abrangeu 39 territórios onde existe uma clara alternância entre verões quentes e invernos suaves e húmidos, incluindo:
- Florestas, bosques e matos mediterrânicos ou florestas esclerófilas mediterrânicas, bioma típico dos territórios da Bacia Mediterrânica, onde se enquadram os países em torno deste Mar, nos três continentes.
- Florestas mistas dos Alpes Dináricos, nas Balcãs, que se estendem desde o nordeste de Itália até ao norte da Albânia, atravessando a Eslovénia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro, Sérvia e nordeste do Kosovo.
- Complexo florestal submediterrânico da Crimeia, na costa do Mar Negro, abrangendo partes da Ucrânia e Rússia.
- Ecorregião das florestas estepárias da cordilheira de Zagros, desde o extremo oriental da Turquia ao Norte e Sul do Irão.
Este trabalho deixou de fora espécies que não existem naturalmente em áreas de clima mediterrâneo, embora estejam integradas em países que são incluídos nesta região, como os arquipélagos portugueses da Madeira e Açores, onde o clima é mais húmido, e as estepes florestadas onde a chuva rareia. Incluiu, no entanto, espécies mediterrânicas que coexistem noutras zonas climáticas.
No seu conceito de árvores, os autores consideraram as plantas perenes que têm um único tronco ou caule, com ramos laterais que crescem longe do solo, e que podem atingir pelo menos três metros de altura em condições naturais. É mais comum considerarem-se árvores as plantas que atingem os cinco e não os três metros, pelo que esta compilação acaba por abranger espécies que são tipicamente consideradas arbustos e excluídas de outras listas de árvores, como o carrasco (Quercus coccifera) ou o medronheiro (Arbutus unedo).
A sua inclusão neste trabalho é justificada por estes arbustos de maior porte terem uma importância ecológica similar à das árvores na conservação das florestas e dos sistemas agroflorestais mediterrânicos, sendo “recursos genéticos valiosos para uma silvicultura adaptada às alterações climáticas”, refere o artigo.
Neste sentido, o inventário identifica como árvores mediterrânicas 48 espécies e 8 subespécies que são descritas como arbustos nas referências consultadas que serviram de ponto de partida para o presente trabalho.
Em relação a Portugal, refere como nova, a informação relativa a:
- Cinco espécies, um híbrido e uma subespécie mediterrânicos nativos, que antes não eram assim consideradas: Ficus carica, Juniperus phoenicea, Laurus nobilis, Pinus sylvestris, Tamarix canariensis, Salix x fragilis e Ficus carica subsp. carica. Apesar de este trabalho as referir como uma novidade entre as nativas mediterrâneas portuguesas, a maioria já é considerada autóctone em várias publicações e bases de dados, como o portal da flora portuguesa Flora-on.
- Quatro espécies e uma subespécie mediterrânicas introduzidas em Portugal, que antes não eram assim consideradas: Betula pendula, buxo (Buxus sempervirens), cedro-do-sal (Tamarix parviflora), Ulmus glabra e Betula pendula subsp. pendula.
- Em sentido inverso, refere que não temos no nosso território seis espécies e uma subespécie que outras fontes de informação indicam existirem: olaia (Cercis siliquastrum), álamo-negro (Populus nigra), pera-brava (Pyrus pyraster), cambra (Rhamnus cathartica), Salix pedicellata, Ulmus procera (ou Ulmus minor) e Salix pedicellata subsp. pedicellata.
A equipa assume a existência de lacunas e vieses nesta sua lista, que não deve ser considerada como definitiva, mas antes como uma base inicial para aprofundar o conhecimento das espécies de árvores mediterrânicas.
Estas discrepâncias devem-se a diferentes razões, incluindo enviesamentos; omissões e variações de nomenclaturas, já existentes nas bases de dados que serviram de ponto de partida; inexistência de informação genética sobre muitas das espécies e limitações de pesquisa em língua inglesa. Assim, apelam aos investigadores que estão a trabalhar em espécies de flora para fazerem a respetiva identificação taxonómica (em latim) nos títulos, palavras-chave e resumos das suas publicações, de modo que a futura identificação seja viável.
Refira-se que para este inventário das árvores do Mediterrâneo, a equipa combinou informação sobre as árvores mediterrânicas patentes no trabalho What is a tree in the Mediterranean Basin hotspot? A critical analysis e nos repositórios online GlobalTreeSearch, Plants of the World Online e Euro+Med PlantBase. Depois complementou-a com mais literatura e conhecimento científico e cruzou estes dados com fontes de outras áreas para melhor compreender dados relevantes: o risco de extinção (Lista Vermelha da UICN), a importância económica e a diversidade genética.
Tendo em conta que parte das espécies mediterrânicas são pouco conhecidas (e algumas ainda menos estudadas) e “considerando os múltiplos riscos enfrentados pelas florestas mediterrânicas no século XXI, o desenvolvimento de redes de conservação à escala dos grandes habitats mediterrânicos, das suas espécies e diversidade genética é uma prioridade, para a qual esta publicação pode contribuir”, concluem os autores.