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Carolina Gonçalves

A riqueza escondida nas folhas de eucalipto

O eucalipto é uma árvore imponente, de folhas estreitas e alongadas, conhecida pelo seu aroma agradável. Em Portugal, é a principal fonte de fibra para a produção de pasta de papel, mas este não é o único contributo que nos traz. As folhas de eucalipto guardam uma riqueza que importa conhecer e valorizar.

A indústria da pasta e do papel tem um impacto significativo na economia portuguesa, sendo o país um dos principais produtores e exportadores europeus. Esta procura é alimentada pelas plantações de eucalipto, que começaram a fazer-se na segunda metade do século XX, sendo o eucalipto-um–nome-paracentenas-deespecies-florestais/”>Eucalyptus globulus a espécie predominante.

Apesar da sua importância económica, uma parte considerável dos sobrantes gerados durante as operações florestais – como ramos, folhas, frutos e casca – permanece subaproveitada. Estas sobras são muitas vezes deixadas na floresta ou utilizadas como fonte de energia.

No entanto, esta árvore guarda verdadeiros tesouros: as folhas de eucalipto escondem um conjunto de compostos com propriedades benéficas reconhecidas para a saúde humana e com aplicações promissoras nas indústrias cosmética, alimentar, nutracêutica e farmacêutica.

O que há nas folhas de eucalipto?

As folhas de eucalipto contêm uma variedade de compostos bioativos, entre as quais se destacam os óleos essenciais, os compostos triterpénicos e os compostos fenólicos:

– O eucaliptol (ou cineol), principal componente do óleo essencial de eucalipto, representa entre 1 e 3% do peso seco da folha. Este valor permite uma extração de óleo essencial de 0,5 a 1,5 litros por 100 quilogramas de folhas. O óleo essencial extraído destas folhas encontra-se amplamente consolidado no mercado, com aplicações nas áreas da perfumaria, aromatização e no tratamento de afeções do trato respiratório.

– Para além dos óleos essenciais, é também possível obter compostos triterpénicos, que têm vindo a ganhar reconhecimento pelos seus diversos benefícios terapêuticos, como a sua ação antitumoral e o seu potencial na modulação do sistema imunológico. Representam cerca de 1 a 3% do peso seco da folha.

– As folhas de eucalipto são ainda ricas em compostos fenólicos. Representando cerca de 1 a 5% do seu peso seco, estes compostos são conhecidos pelas suas propriedades antioxidantes eficazes.

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Compreender e esclarecer para valorizar

Uma ideia pouco correta que, por vezes, persiste é a de que as folhas de eucalipto são tóxicas e prejudiciais ao meio ambiente. Embora algumas espécies de eucalipto e muitas outras plantas possuam compostos que podem ser tóxicos para determinados organismos (principalmente insetos e outras plantas, já que são uma forma de proteção natural das próprias plantas), é importante contextualizar esta informação.

No eucalipto, por exemplo o teor de eucaliptol dos óleos essenciais extraídos das folhas varia geralmente entre 60% e 90%, mas, quando diluído corretamente, este composto torna-se benéfico e seguro para uso humano.

À escala da própria folha, a concentração de compostos presentes não representa um perigo direto e é justamente a partir da extração controlada e da utilização adequada que esses componentes se tornam valiosos para diferentes indústrias. A chave está no equilíbrio e uso responsável, pelo que a informação cuidada sobre estes produtos é crucial para o entendimento público.

Com tantos benefícios e um potencial ainda em expansão, as folhas de eucalipto representam uma riqueza natural muitas vezes subestimada. Esclarecer mitos e compreender as propriedades deste recurso permite que o aproveitemos melhor, promovendo uma utilização mais sustentável e inovadora. Assim, o que antes era visto apenas como uma parte secundária da árvore, agora revela um verdadeiro potencial, impulsionando ainda mais a economia circular.

Setembro de 2025

O Autor

Carolina Gonçalves é Investigadora no BIOREF – Laboratório Colaborativo (CoLAB BIOREF), uma instituição de referência no desenvolvimento de biorrefinarias avançadas e na promoção da bioeconomia sustentável.

A sua formação inclui um mestrado em Bioengenharia, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (2012), e um doutoramento em Engenharia da Refinação, Petroquímica e Química (2019).

Ao longo da sua trajetória, adquiriu ampla experiência em instituições de investigação e empresas de renome. No CoLAB BIOREF, desempenha um papel estratégico na gestão de projetos nacionais e europeus para o desenvolvimento de produtos sustentáveis e inovadores. Paralelamente, gere a comunicação do CoLAB BIOREF.

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