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Floresta Portuguesa

Quais são as variedades de oliveira (cultivares) mais plantadas em Portugal para produzir azeite e azeitona?

Encontram-se descritas e referenciadas (em 2023) um total de 65 variedades de oliveira, que são cultivadas em Portugal para a produção de azeite, de azeitona de mesa ou de ambos os bens alimentares.

Estas variedades de cultivo (ou cultivares) constam do Registo Nacional de Variedades de Fruteiras 2022, sendo algumas delas específicas e provenientes de determinadas regiões.

As principais regiões olivícolas de Portugal são a chamada “Terra Quente” em Trás-os-Montes, a Beira Interior, o Ribatejo e o Alentejo. Já as variedades de oliveira dominantes em muitos olivais das diferentes regiões olivícolas são as nacionais ‘Galega Vulgar’ (ou ‘Galega’) e ‘Cobrançosa’. Além delas, existem muitas outras variedades regionais e locais que têm menor difusão.

 

Distribuição das variedades de oliveira em Portugal – principais regiões olivícolas

Mapa-Portugal-Oliveira

Fonte: “Recursos genéticos da oliveira e sua preservação no contexto das alterações climáticas”, de António Cordeiro e Carla S. França Inês, INIAV

 

As principais variedades regionais de oliveira (nas Denominações de Origem Protegida – DOP de azeite e azeitona de mesa e de acordo com o “Grande Livro da Oliveira e do Azeite – Portugal Oleícola”) são: ‘Galega vulgar’, ‘Cobrançosa’, ‘Verdeal Alentejana’, ‘Cordovil de Serpa’, ‘Azeiteira’, ‘Blanqueta’, ‘Carrasquenha de Elvas’, ‘Verdeal de Trás-os-Montes’, ‘Madural’, ‘Cordovil de Trás-os-Montes’ ‘Negrinha do Freixo’, ‘Cornicabra’, ‘Carrasquinha’, ‘Cordovil de Castelo Branco’, ‘Bical de Castelo Branco’, ‘Conserva de Elvas’ e ‘Lentrisca’.

 

As 16 variedades de oliveira com maior difusão

 

Algumas destas variedades de oliveira têm, no entanto, áreas diminutas de cultivo. Assim, pela representatividade, pode considerar-se um número mais reduzido de variedades com maior difusão: ‘Galega Vulgar’, ‘Cobrançosa’, ‘Verdeal de Trás-os-Montes´, ‘Madural’, ‘Negrinha do Freixo’, ‘Cornicabra’, ‘Cordovil de Castelo Branco’, ‘Azeiteira’, ‘Carrasquenha de Elvas’, ‘Blanqueta’, ‘Cordovil de Serpa’ e ‘Verdeal Alentejana’.

Em Portugal, em olivais intensivos no Alentejo e no Ribatejo, tem também grande importância a Picual (espanhola) e nos olivais superintensivos ou em sebe encontramos a Arbequina, a Arbosana (também espanholas) e a Koroneiki (grega).

1 – ‘Galega Vulgar’

Também conhecida como Galega, Galega meuda, Molar, Negrucha encontra-se na Beira Interior, Ribatejo, Alentejo e Algarve (e também em Espanha – Huelva e Extremadura). É usada para azeite e para azeitona madura (o que se chama conserva em negro). Considerada uma variedade de cultivo (cultivar) de grande rusticidade, é tolerante à seca, mas sensível ao frio, à salinidade e ao calcário ativo. Muito produtiva e de grande alternância (anos com grande produção, seguidos por anos de baixa produção) é pouco apropriada à colheita mecânica com vibrador.

Esta variedade é muito suscetível à gafa e apresenta alta incidência de tuberculose, mosca-da-azeitona, cochonilha e fumagina. Saiba mais sobre as pragas e doenças que afetam esta e outras variedades de oliveira.

2 – ‘Cobrançosa’

Também conhecida por Quebrançosa ou Salgueira, é uma variedade cultivada para azeite e para azeitona de mesa verde (conserva em verde). Está presente em Trás-os-Montes, Ribatejo, Beira Alta e Alentejo e é uma variedade muito produtiva e regular, adaptada à colheita mecânica com vibrador. É tolerante ao frio e aos solos calcários e alcalinos, mas suscetível à seca e salinidade. Quanto a pragas e doenças, regista média incidência de mosca, de olho-de-pavão e de tuberculose e baixa incidência de gafa.

3 – ‘Verdeal de Trás-os-Montes’

Esta Verdeal é, como o nome indica, a variedade plantada em Trás-os-Montes para a produção de azeite. Cultivar produtiva e alternante (anos de elevada produção, seguidos por outros pouco produtivos), é adequada à colheita mecânica com vibrador de troncos, o que é feito quando a azeitona está no seu estado de maturação completo. Esta variedade é tolerante à gafa, mas tem média incidência de tuberculose e de olho-de-pavão, sendo suscetível à mosca-da-azeitona e à cochonilha.

4 – ‘Madural’

Também conhecida como Cercial ou Comum, é uma variedade plantada para azeite, típica de Trás-os-Montes e da Beira Interior (Distrito da Guarda). É uma cultivar produtiva, mas de frutificação pouco regular, que se adequa à colheita mecânica com vibrador. Muito tolerante ao frio, apresenta fácil adaptação a diferentes regiões. Com média incidência de gafa, esta é uma das variedades de oliveira com alta incidência de olho-de-pavão, fumagina, mosca e cochonilha.

5 – ‘Negrinha do Freixo’

A ´Negrinha´ encontra-se disseminada em Trás-os-Montes e na Beira Interior. É uma variedade plantada para obtenção de azeitona de mesa. É produtiva e regular, mas tem uma alta incidência de olho-de-pavão e cochonilha, média de tuberculose e baixa de gafa e mosca.

6 – ‘Cornicabra’

É uma variedade da Beira Alta e Trás-os-Montes, cultivada para azeite. Medianamente produtiva e com alternância entre anos mais e menos produtivos, a ‘Cornicabra’ regista média incidência de gafa e média a alta incidência de olho-de-pavão.

7- ´Cordovil de Castelo Branco’

Também conhecida apenas por Cordovil, é uma variedade da Beira Baixa, destinada à produção de azeite e à conserva de azeitona em verde. Cultivar produtiva e regular, é tolerante ao frio, à seca e à salinidade do solo. A incidência de olho-de-pavão, gafa, tuberculose e mosca é entre média e alta.

8 – ‘Azeiteira’

Também conhecida como Azeitoneira ou Carrasquinha, é uma variedade plantada para conserva da azeitona em verde e está incluída na DOP Azeitona de Conserva de Elvas – Campo Maior. Além de estar presente no Concelho de Campo Maior e Elvas, Alto Alentejo, é plantada também em Figueira de Castelo Rodrigo, Beira Interior. A ‘Azeiteira’ é muito produtiva e regular e pouco afetada por gafa e mosca (baixa incidência).

9 – ‘Carrasquenha de Elvas’

Também conhecida por Carrasca, é uma variedade para azeite e conserva de azeitona em verde, que encontramos nos concelhos de Campo Maior e Elvas, Alentejo, e no concelho de Idanha-a-Nova, Beira Interior. É uma cultivar bastante produtiva (em porta-enxerto vigoroso) e adapta-se à colheita mecânica. A incidência de gafa é baixa, enquanto a de mosca é média.

10 – ‘Blanqueta’

Também conhecida por Branquita (ou Villalonga em Espanha), é uma das variedades de oliveira do Alentejo e Ribatejo, plantada tanto para azeite como para conserva da azeitona em verde e negro (tanto colhida no início da maturação como já madura). A ‘Blanqueta’ é muito produtiva e regular, tem pouca incidência de gafa e de mosca, mas elevada incidência de tuberculose.

11 – ‘Cordovil de Serpa’

Também conhecida por Cordovil de Moura, é uma variedade do Alentejo, plantada para azeite e para conserva da azeitona em verde. É muito produtiva, embora alternante, e é apropriada à colheita mecânica com vibrador. Tem tolerância média a solos calcários e alcalinos e é sensível ao frio, seca e salinidade. É bastante afetada por olho-de-pavão e mosca (alta incidência).

12 – ‘Verdeal Alentejana’

Também conhecida por Verdeal ou Verdeal de Serpa, é uma variedade para azeite e conserva de azeitona em verde, do tipo artesanal britada (colhida no início da maturação, esmagada e temperada). A ‘Verdeal Alentejana’ é medianamente produtiva e regular, mas pouco apropriada à colheita mecânica com vibrador de troncos. Adaptada a solos húmidos, tem baixa incidência de tuberculose, gafa e mosca-da-azeitona.

13 – ‘Picual’

Esta é uma variedade para azeite, que pode ser encontrada em Portugal e Espanha. É bastante rústica, muito produtiva e regular, adequando-se à colheita mecânica com vibrador de troncos. É tolerante ao frio, à salinidade e ao excesso de humidade no solo, mas suscetível à seca e aos solos calcários. Resistente à tuberculose e à lepra, é muito atacada pela verticiliose e suscetível ao olho-de-pavão, à mosca da azeitona, à cochonilha e à traça.

14 – Arbequina’

A espanhola Alberquina é a variedade mais importante da Catalunha e está também difundida em Aragão e Andaluzia. Fora de Espanha, encontra-se principalmente na Argentina. Em Portugal, pode ser encontrada no Alentejo e no Ribatejo. Este é uma variedade rústica, plantada para produção de azeite, e é muito produtiva e regular. A Alberquina é uma variedade de vigor reduzido (que se desenvolve pouco, tanto em perímetro de tronco, como em altura e volume de copa), o que permite o seu cultivo em plantações intensivas e superintensivas. O calibre pequeno da azeitona dificulta, no entanto, a apanha mecanizada com o vibrador de tronco. É resistente ao frio e tolerante à salinidade, mas suscetível a clorose férrica em terrenos com muito calcário (o que reduz a absorção e assimilação de ferro pela planta, causando deficiências nutritivas). É ainda suscetível à mosca e à verticilose.

15 – ‘Arbosana’

É uma variedade espanhola (em Espanha é também conhecida por Blanca), plantada para azeite, que se encontra disseminada no Alentejo e Ribatejo. É uma cultivar muito produtiva e regular. É resistente ao frio e tolerante à salinidade e suscetível à clorose férrica. Tem grande incidência de mosca e verticilose, média para o olho-de-pavão e baixa incidência de gafa.

16 – ‘Koroneiki’

É a principal variedade plantada para azeite da Grécia, típica da península do Peloponeso (sul da Grécia) e das ilhas de Creta e Samos, e é também uma das cultivares usadas em olivais superintensivos ou em sebe no Alentejo e Ribatejo. A produtividade é elevada e constante. É resistente à seca, mas não tolera o frio. É resistente ao olho-de-pavão e medianamente resistente à verticilose.

 

Desenvolvido em colaboração com António Cordeiro, doutorado em Agronomia e investigador na área da olivicultura, azeitona e azeite, no Pólo de Elvas do INIAV – Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária. António Cordeiro é também coordenador do Programa de Olivicultura e da Coleção Portuguesa de Referência de Cultivares de Oliveira.

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